Era uma vez um circo.
Palhaços, mágicos e saltitantes bailarinas.
Na platéia, adultos trágicos, e alturas pequeninas.
Abriu-se a cortina.
“Lá vem”, disse o pai;
Enquanto ria-se a menina.
Do palhaço que debochava do palhaço que caia tropeço acima.
“Nada demais”, zombou a pobre da granfina.
O homem lá em cima gritou o pipoqueiro.
“Shhhh!”, respondeu, crítica, a atenciosa traquina.
Cujos olhos abobalhavam-se com o despudor do equilibrista.
Que caía e não caía aos passos da sua retina.
Era apenas uma menina.
Passaram elefantes, leões e alguns domadores.
Passou também a “mulher balofa”, chamada Serafina.
Engraçado, riu-se mais a moça do que a criança cristalina.
Enfim, veio o mágico, que, com lenços e maestria, fazia a alegria da Sabrina.
“É truque”, falou um homem alto que cheirava a cafeína.
E a garotinha não desistia de encontrar um vacilo nas mãos do mágico.
Mas se conformava feliz.
“Ele tem poder”, era sua sina.
Que não a mesma do pai, do homem alto e da granfina.
Tão perfeita em sua rotina.
Eram pálidos, tiraram a maquiagem de suas próprias bailarinas.
Tão diferente das infâncias.
Que queriam, logo, pintar-se atrás daquelas cortinas.
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Meus olhos estavam marejados de lágrimas e encharcados de saudades. Permaneci imóvel, embriagada pelo sabor daquelas palavras que teimavam em saltar do papel e me preencher de certa forma que me fazia remontar tempos longínquos. Aquela sensação de nostalgia e a breve emoção vinha inconscientemente e minhas mãos suavam frio, tremiam. Com a visão embaçada, as letras já se misturavam e eu preferi fechar os olhos e deixar que a imaginação me levasse a onde eu desejava. A partir de então, a luz se fez e as figuras tornaram-se sólidas, nítidas, não mais embaçadas como antes. A névoa que pairava à minha frente foi esvaindo-se, dissipando-se pouco a pouco... O mundo então recuperou toda a lógica que havia sido entregue aos insensatos. A coerência e loucura andavam lado-a-lado e a demência dos meus olhos, estavam nos seus e nos dele também. Senti meu corpo dormente, pensei que não iria voltar nunca mais. Suei, senti, troquei os pés, atei-os e não mais andei. Desvairada estava. Desvaneci.
terça-feira, 7 de agosto de 2007
Clarice.
Sinto-me desprezível a ponto de desistir de mim. Parece que a alma sai pelos poros, dilacerando a pele, restando ao corpo somente um vacúolo de tristeza interminável. Perco a vontade de dormir, mas não o sono. Brota-me aos olhos a descrença do que sou, ou do que penso ser, brota-me aos olhos incuráveis insônias de desespero, desespero, desespero, brando aos olhos de quem desconhece o sabor amargo da alma. A angústia rouba-me a força, até esquecer-me de mim mesmo. O único cheiro que sinto é o odor fétido da minha própria putrefação, da gaseificação podre de meu castigo. O som que ouço são notas cansadas de uma “Va, pansiera”, que passeiam em meus ouvidos, como se me açoitasse em notas curtas e fúnebres. As lágrimas que escorro são sólidas, somente sal. Por mais que procure, jamais descubro onde se esconde o erro. Provavelmente coberto por alguma outra casca humana que não a minha. É como se, de repente, tivessem roubado todos os móveis da minha casa. Vazio.
Uma “desvontade” de dispor os pés um a frente do outro. Resta-me um caqueiro. É como se faltasse vontade. Ou uma mão para segurar, não me sei. É como se faltasse ao espírito uma voz para dizer-lhe “é isso que você quer”. Não sei o que quero, quem sou, se sou, e porquê sou. Em algum passo mal dado, deixei que caísse meu sujeito agente, de tal forma que me despi de desejo, sonho, ou qualquer coisa que sugira normalidade a um ser humano.
Uma “desvontade” de dispor os pés um a frente do outro. Resta-me um caqueiro. É como se faltasse vontade. Ou uma mão para segurar, não me sei. É como se faltasse ao espírito uma voz para dizer-lhe “é isso que você quer”. Não sei o que quero, quem sou, se sou, e porquê sou. Em algum passo mal dado, deixei que caísse meu sujeito agente, de tal forma que me despi de desejo, sonho, ou qualquer coisa que sugira normalidade a um ser humano.
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
A ausência se faz presente cada vez mais. Seus suspiros não são mais sentidos como antes e seus sussurros são ouvidos de longe, d'algum lugar distante, levados pelo vento com uma sensação de completa nostalgia... Ela corria destemidamente, seus cabelos rebatiam no seu rosto. Mas havia algo de estranho na sua face, sua expressão não era a mesma... Havia um misto de rancor, amargura e liberdade na sua feição. Arrependimentos? Alguns. Talvez houvesse algo a ser ainda pior... Talvez.
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